12/01/2009 - FOLHA DE SÃO PAULO (SP)
Um estudo realizado pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo aponta que o aumento das faltas dos professores da rede estadual tem relação direta com dificuldade de aprendizagem dos estudantes.
De acordo com essa pesquisa, um ponto percentual a mais no índice de absenteísmo dos docentes representa a perda para os estudantes da quarta série do ensino fundamental de 7,5% na nota de língua portuguesa e 8,5% de matemática.
Para chegar a esses números, a secretaria cruzou dados das faltas dos professores com as notas médias das Escolas estaduais no Saresp 2007 (exame da rede paulista).
Foi utilizado um modelo estatístico para comparar unidades com condições praticamente iguais, mas com taxas diferentes de absenteísmo.
Exemplo: duas Escolas, com o mesmo número de alunos, na mesma região. Em uma, porém, 13% dos professores faltam todos os dias; na outra, 12%.
De acordo com a pesquisa feita em São Paulo, os estudantes da primeira Escola tiveram 14 pontos a menos que os da segunda em língua portuguesa e 16 a menos em matemática no Saresp.
As notas médias da rede estadual como um todo foram, respectivamente, 187 e 183.
O mesmo padrão se repetiu para os diferentes perfis de Escolas da rede estadual -ou seja, o resultado representa o comportamento de toda a rede estadual de ensino.
"Quando o professor falta, quebra o desenvolvimento das atividades", afirma a coordenadora do Laboratório de Ideias (área da secretaria responsável por pesquisas), Priscila Albuquerque. "Os dados mostram que o substituto não é perfeito, mesmo que ele seja bem preparado." Reação do governo
Uma reportagem publicada pela Folha em novembro de 2007 mostrou que, em média, 13% dos professores da rede estadual paulista faltavam todos os dias ao trabalho.
Desde então, o governo José Serra (PSDB) tem adotado medidas para diminuir o absenteísmo no sistema -métodos que recebem críticas das entidades representativas do funcionalismo e por parte dos pesquisadores.
Uma das ações do governo foi limitar em seis ao ano o número de ausências justificadas por meio de atestados médicos. Até então, o servidor podia faltar metade do ano letivo, sem sofrer descontos em seu salário, desde que as faltas não fossem em dias consecutivos.
De acordo com um balanço da Secretaria de Estado da Educação, após a alteração, houve diminuição de 59% nas faltas dessa modalidade -um dos 19 dispositivos que permitem ao professor faltar sem perda de salário.
A pasta afirma que outra medida que deverá diminuir o absenteísmo na rede é o critério para pagamento do bônus por desempenho, pois cada falta diminuirá a gratificação do servidor (cujo valor total pode chegar a 2,9 salários).
Problema para os alunos. A queda no desempenho Escolar das crianças em razão da falta dos docentes já havia sido identificada na rede estadual de Minas Gerais, por meio de um estudo realizado professor Tufi Machado Soares, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Com base no sistema mineiro de avaliação, o levantamento mostrou que os alunos da quarta série que estudaram com professores que faltaram muito ao longo do ano letivo tiveram média de 187 pontos em língua portuguesa, ante 200 daqueles cujos docentes foram considerados assíduos.
"O aprendizado do aluno não se dá apenas do ponto de vista técnico. Há também o vínculo afetivo, além de o professor conhecer seus alunos", afirmou a pesquisadora em Educação Iraide Barreiro, dos campi de Assis e Marília da Unesp (Universidade Estadual Paulista). "Quando isso é quebrado, claro que há perdas aos estudantes." "As faltas pesam mais nas turmas até a quarta série, pois o mesmo professor fica com a turma o tempo todo. A relação entre eles é muito estreita", explica a diretora da Escola Juventina Patrícia Santana (zona sul de São Paulo), Nubia Mello.